A evolução do luxo silencioso no lar contemporâneo brasileiro
Por Arnaldo Danemberg
Segundo a WGSN (World Global Style Network), uma das grandes tendências de consumo para 2024 e 2025 é o Quiet Luxury – ou low key luxury. No passado, esse movimento era predominantemente associado ao mercado de moda, onde a elegância se expressava de forma sutil e sem ostentação. Hoje, vejo esse conceito se expandindo para outros segmentos, pronto para encontrar um novo lar na casa contemporânea brasileira, onde o luxo se revela tanto no que é mostrado, quanto no que é sentido. Embora tenha um toque sutil de modernidade, o Quiet Luxury foi muito visto na França do século XIX. O conceito, que pode ser literalmente traduzido como “luxo silencioso”, se manifesta na arquitetura e decoração por meio de espaços sofisticados, atemporais, e com poucos, porém selecionados elementos. Esse estilo valoriza a boa manufatura, a primazia nos detalhes e construção de cada peça.
Para mim, a essência do Quiet Luxury está na rejeição dos excessos em prol de um espaço refinado que promove o verdadeiro bem-estar. Em um mundo onde as pessoas se tornaram mais conscientes, é impossível separar uma coisa da outra. O luxo sem valores humanos e significado por trás, simplesmente não encontra mais espaço na sociedade atual, especialmente depois da pandemia, que reforçou a importância de viver e morar com propósito. O móvel campesino francês, de uma simplicidade e linearidade ímpares, são opções elegantíssimas para composições nesse formato. Ao estudar a história da França e percorrer suas ruas, monumentos e construções, não posso deixar de me fascinar com como a grandiosidade se transforma em um objeto de desejo. A riqueza cultural e estética do país se revela em cada detalhe, mas sempre preservando a sobriedade que define o Quiet Luxury. Ao meu ver, essa combinação de grandeza e discrição é o que proporciona um conforto visual único, capaz de transformar qualquer ambiente em um belo espaço.
A expertise do antiquário nos permite apreciar séculos de história, refletidos em um acervo respeitável e digno de orgulho, mostrando que essa tendência, no entanto, vai muito além do cenário francês. No Brasil, muitos designers e arquitetos têm abraçado esse movimento, defendendo a forma e qualidade atemporais como verdadeiros sinônimos de luxo em um local. No cenário do Quiet Luxury no Brasil, tenho observado como o trabalho de restauração tem se destacado, trazendo nova vida a móveis que carregam essas características. A crescente demanda por investir em peças duradouras, que possam atravessar gerações, me parece uma escolha inteligente e consciente. Essa tendência está transformando a maneira como as pessoas se conectam com seus lares, valorizando o que é atemporal e expressando um estilo de vida que preza pela qualidade e história por trás de cada peça. Assim como países e pessoas evoluem, acredito que as casas e seus habitantes também estão sempre em constante adaptação.
*Arnaldo Danemberg é fundador e CEO do antiquário Arnaldo Danemberg Collection