Matheus Mason ajuda negócios com Inteligência Artificial aplicada no setor de bares e restaurantes
Por Amélia Whitaker
O empresário Matheus Mason, especialista em Inteligência Artificial aplicada ao setor de bares e restaurantes, entrou para o universo gastronômico em 2007. Proprietário e sócio do irmão Mauro Mason, no Benedito, um dos restaurantes mais conhecidos na cidade de Campinas, decidiu inovar o setor por meio da inteligência artificial, já que no caminho encontrou alguns obstáculos que precisariam de auxílio rápido e eficiente. Diante de sua principal dificuldade no desenvolvimento de pessoas, comprometimento de equipe e contratação, Matheus criou a ‘Chef.AI’, focada em criar soluções para otimizar processos de recrutamento, seleção, atendimento ao cliente e marketing. Sua principal missão é fortalecer o empreendedorismo, ajudando negócios a evitar desperdícios de tempo e dinheiro ao implementar ou reestruturar operações no setor gastronômico.
1. Quando começou a se envolver com a gastronomia?
Eu sou do exemplo da turma que gosta de se reunir com amigos e frequentar restaurantes. Sou de Mogi Mirim e em 2007 tinha um grupo de amigos que se encontrava para falar de negócios e empreendedorismo. Durante uma dessas reuniões surgiu a ideia de comprar um bar chamado Companhia Mogiana, que já tinha um bom tempo de casa, mas não estava indo bem. Reunimos oito amigos, cada um com uma expertise diferente, e compramos o local, por cerca de 25% do valor, já que conseguimos reorganizamos as dívidas. O valor inicial era de 190 mil e após negociar os débitos, desembolsamos 60 mil reais. Em 2016, resolvemos vender e, após oito anos, o valor de venda foi de quase 1 milhão. Essa foi minha entrada no setor gastronômico. Em paralelo aos negócios gastronômicos eu era consultor de uma empresa em São Paulo. Em 2016, abri o Benedito, em sociedade com meu irmão e até hoje esse tem sido meu principal negócio com forte atuação.
2. Quais foram as maiores dificuldades encontradas na trajetória, na gestão de um negócio gastronômico?
Tem de tudo, são momentos e dificuldades diferentes. Hoje a principal delas é desenvolvimento de pessoas, comprometimento de equipe e contratação, ou seja, trazer gente para dentro de casa. Hoje no Benedito temos uma equipe muito boa, forte e organizada, mas isso demanda muito tempo. Atualmente temos até um trabalho de desenvolvimento humano para toda equipe. Trouxemos um consultor que conversa, alinha e dispõe de um tempo para nossos colaboradores para trabalharmos problemas que podem ser resolvidos e melhorados. A grande questão é construir times que vistam a camisa, que façam parte de uma família para ter um negócio que cresça. Além disso, o setor de restaurantes demanda muito tempo, então administrar o tempo também é outra questão. Temos uma agenda diferenciada, principalmente aos finais de semana, quando todos estão em seus momentos sociais estamos em nosso melhor momento de trabalho. O desafio de empreender nesse setor tem muita coisa intrínseca, já que não temos muitas escolas de gastronomia e biografias de como realizar o trabalho, ou seja, os processos e sistemas são muito particulares. Ainda é um setor que precisa de muita profissionalização e gestão.
3. Como descobriu o potencial da Inteligência Artificial para negócios gastronômicos?
O potencial da Inteligência Artificial veio exatamente dessa minha dor de contratar pessoas. Eu e meu irmão, chef do restaurante, estávamos muito cansados com relação ao volume de trabalho, dificuldade de contratação, funcionários dando trabalho e dificuldade de motivar os colaboradores, já que nós não estávamos motivados. Estávamos cansados, com síndrome de burnout e, neste período, três cozinheiros pedirem as contas. Já era hora de começar um novo processo seletivo, mas tudo tinha que ser feito com muita rapidez, já que diante do problema, decidimos fechar metade do salão de quatro a seis semanas, com um prejuízo que poderia chegar a 150 mil reais e ainda com a chance de perder mais pessoas nesse meio tempo. Quando iniciei o processo de contratação, o primeiro Currículo estava todo rabiscado e tive dificuldades de entender as habilidades do candidato. Vi que aquilo me tomaria muito tempo e precisava de uma ajuda para dar agilidade. Então revisamos todas as descrições de cargo com inteligência artificial, construímos novas descrições e fizemos um ajuste com o que queríamos e quais habilidades poderiam ser importantes como: valores técnicos, competências comportamentais e assim por diante. Com esses dados obtivemos ajuda para construir os anúncios que tínhamos enviado pelo linkedin. O sistema nos ajudou a selecionar currículos com agilidade e em duas semanas fiz 27 entrevistas com a inteligência artificial assessorando em todos os momentos. Por meio do ChatGPT os currículos passavam por um assistente que nos informavam quais eram os mais assertivos e com maior chance de sucesso. As entrevistas online eram gravadas e o assistente fazia o resumo por meio da descrição do cargo mostrando onde o candidato tinha pontos positivos e onde deveríamos tomar cuidado. Começamos a ter um assistente de RH no processo seletivo e conseguíamos as informações com agilidade. Um sistema de gestão de projetos e tarefas nos auxiliava quando um novo funcionário que tinha passado por uma triagem de currículo e uma primeira entrevista, vinha fazer os testes na cozinha. Os dados coletados já estavam na mão do chef e, por meio disso, a equipe conseguia ver o que estava batendo ou não com as habilidades, com o currículo e outras informações. A inteligência artificial nos instruía como analisar o funcionário durante o período de teste. Todas as informações eram registradas e conseguimos construir uma equipe sólida. Hoje temos a melhor equipe do restaurante. Trocamos seis pessoas na cozinha e as seis semanas que ficaríamos com a metade do salão viraram três. Além de reduzir o prejuízo pela metade, tivemos três meses de recorde de vendas. Todo esse processo foi muito rápido, já que uma entrevista que demorava uma hora hoje não leva mais que 20 minutos. Eu tinha uma noção do processo, já que estava trabalhando nisso para responder comentários, fazer reservas, etc. Hoje temos o nosso assistente virtual que nomeamos de Benê. Após os problemas de recrutamento caí de cabeça nesse projeto e hoje já faz seis meses que implantamos a inteligência artificial, uma das nossas principais aliadas no nosso restaurante.
4. Como a inteligência artificial tem revolucionado a produtividade nos restaurantes?
A ineligência artificial não esta revolucionando somente o setor gastronômico. Dei o exemplo do RH, recrutamento de seleção, mas também temos o auxílio no relacionamento com cliente. Quando alguém faz um post, por exemplo, pedimos que seja feita uma pesquisa de satisfação, uma avaliação no Google ou no Trip Advisor e assim por diante. Internamente também temos nossos processos de produção e um deles é o planejamento de controle de produção, que planeja a produção da próxima semana como: quantos quilos de arroz serão feitos ou quantos pratos, dadas as condições para o período. Temos tudo isso na inteligência artificial e estamos evoluindo mais. Hoje conseguimos saber, por exemplo, quando uma cozinheira termina de fazer uma receita e se o prato está correto ou não. Isso é uma dor gigante no setor, muito difícil de saber porque é muita correria, muitas receitas e muitos processos. Começamos a entender até se um funcionário entrega um processamento de um alimento com uma qualidade melhor do que outro funcionário. E tudo isso só é possível porque tem inteligência artificial embargada no sistema. São parâmetros que o sistema aprende e consegue realizar com o tempo, além de coisas mais práticas e rápidas como relatórios. Como disso anteriormente, nunca fomos muito bem servidos de sistemas porque as coisas eram muito caras e um negócio médio de um restaurante não tem uma verba grande para contratar o serviço. Era difícil ter altos controles e previsibilidade no nosso setor. Agora, com a inteligência artificial os sistemas estão mais baratos, os processos estão melhores e mais automatizados. Então tudo isso é a inteligência artificial entrando nos sistemas dos nossos negócios e ajudando na produtividade.
5. Qual o desafio de implementar a inteligência artificial em um negócio gastronômico e quais as vantagens?
É preciso ter três coisas: a primeira é uma boa ferramenta. Muitos procuram alternativas grátis, porém com muitas limitaçãos. Um exemplo é a diferença entre um bebê e um adolescente de 17 anos, onde os dois são muito inteligentes e podem errar, mas as instruções para um neném é muito mais complicado, mesmo que nos dois casos precisamos ensinar. É melhor optar por uma inteligência paga, podendo ser muito mais precisa na hora de demandar e entender as tarefas. Muitos começam a usar os ‘não pagos’ e desistem porque não começam mais ver resultados. A segunda dica é passar a arrebentação. Imagine que você está no mar remando ondas fortes e qualquer onda grande te joga de novo para a praia, ou seja, é preciso passar a arrebentação. Quando isso passa é possível ver na inteligência artificial como aprendemos a formular melhor as perguntas e como ela dá respostas mais precisas. Depois de passar por isso o ganho de produtividade é gigante. O terceiro passo é a familiaridade. O que recomendo quando me perguntam? Não desista, use uma ferramenta boa diariamente. Um conselho é fazer uma tarefa sem inteligência artificial e depois fazer a mesma coisa com o auxílio da ferramenta. Pode ser um documento no Excel ou uma avaliação por exemplo. No caso de querer elaborar uma resposta para uma avaliação negativa, com o tempo a inteligência artificial já vai te dar os passos para responder da melhor forma. Esses são os três principais pontos.
6. Quanto um restaurante pode crescer em faturamento e resultado após implementação da inteligência artificial? Tem como mensurar isso?
Não sei se tem como mensurar, mas faz duas semanas que tenho uma inteligência artificial fazendo reservas. Hoje temos a ferramenta que demos o nome de ‘Chef.IA’, funcionando sete dias da semana, 24 horas, fazendo reservas, respondendo perguntas sobre preços, cardápios e outras dúvidas, como a possibilidade de levar um pet. Com essa agilidade nas respostas dobramos a quantidade de reservas em uma sexta e sábado no jantar, sem ser datas especiais, além de nosso faturamento ter sido o maior, já registrados nesses dois dias da semana. Esse é um indicador pequeno, mas mostra um caso prático do restaurante Benedito.
7. Nessa jornada gastronômica você recorreu a mentoria do Marcelo Politi. O que isso acrescentou de positivo nos seus negócios?
Consegue citar resultados concretos?
Somos mentorados do Politi porque muito do que fazemos precisamos estar dentro de um ambiente, ou seja, um contexto que nos ajudasse a fazer as coisas, ou seja, te ajude a pensar. Um exemplo, foi tirar o robô para responder no Google Meu Negócio e tomar a frente. Após mudar isso, nossa avaliação no Google aumentou absurdamente e estamos tendo muito mais fluxo na plataforma. Eu já tinha um nível de controle de processos grandes no meu restaurante, mas mesmo assim comecei a passar as aulas do Politi para minha equipe. Meu CMV (custo de mercadoria vendida) está no menor patamar histórico e estamos conseguindo manter. Muitas dicas e processos, mesmo para quem tem bom controle interno como temos no Benedito, ajuda muito. A mentoria auxilia em dois momentos. Primeiro percebi que estava fazendo do jeito que não era o mais inteligente e consegui ajustar, já que comecei a ver gente fazendo coisas diferentes e o segundo ponto é estar em um ambiente que te motiva a isso. Eu participo da Abrasel, do Conselho Nacional, que é um ambiente assim e, diferente do que estamos trabalhando em política pública e em melhorar o Brasil, só de estar dentro de um curso desse, dentro de uma mentoria, começamos não só a ter ferramentas, mas a conviver com pessoas que fizeram uso delas e ajudou. Várias vezes fomos em eventos e imersões com o Politi e saímos questionando como poderíamos fazer as coisas de forma diferente e mais assertiva. Começamos a criar melhorias, e trazer benefícios para dentro do nosso restaurante que demoraríamos muito mais tempo para fazer. Estava com 34% de CMV e minha meta era alcançar os 30%. Viemos com processos e mais força para dentro da gestão do negócio e baixamos quatro pontos chegando aos 29%. Então isso é espetacular, um dos ganhos, fora todo relacionamento que se faz, todas as pessoas que estão com as mesmas dores que temos e essa troca de informações neste círculo que a gente cria.