Por Marcela Argollo
A governança generativa chegou para cultivar a inovação e a resiliência em ambientes complexos
Em um cenário de constante evolução na gestão organizacional, o conceito de governança generativa emergiu como um paradigma de desenvolvimento e transformação. O que, diga-se de passagem, é uma grande e bem-vinda novidade. Diferentemente das formas tradicionais de governança – que em geral se concentram em ambientes regulatórios, de conformidade, supervisão, auditoria e controle –, a governança generativa tem como seu principal intuito fomentar a criatividade, a inovação, a colaboração e a geração de valor.
Ela nasce de uma mistura da teoria da governança e da teoria da complexidade, reconhecendo que as organizações atuais operam mediante o caos, em ambientes dinâmicos e complexos, em busca de uma constante inovação, a rápida capacidade de resposta e um processo decisório mais assertivo.
A governança generativa tem princípios fundamentais para a sua implementação efetiva, entre eles, a descentralização de autoridade. O objetivo é capacitar os colaboradores a tomar decisões e agir de acordo com a cultura e os objetivos da organização, promovendo um maior senso de propriedade e responsabilização. Isso gera processos decisórios colaborativos, integrais e inclusivos, o que garante que diversas perspectivas sejam consideradas. Mais: aceitar que a mudança e a incerteza são inerentes a ambientes complexos faz com que existam priorização, flexibilidade e agilidade, permitindo os ajustes necessários de acordo com a demanda.
Embora enfatize a descentralização e a colaboração, a governança generativa permanece enraizada no propósito, nos valores e no alinhamento estratégico, sendo todos os mecanismos e práticas projetados para apoiar a visão de longo prazo, objetivando a perenidade da organização. Pretende-se, por fim, a promoção de uma cultura de aprendizado contínuo, no qual ciclos de feedback são estabelecidos para acompanhar a assertividade das decisões e ações, garantindo que a organização esteja em constante evolução.
Implementar a governança generativa requer uma mudança de mindset e de estrutura organizacional. E o tone of the top, ou seja, fazer com que os líderes pactuem um compromisso com a descentralização, a colaboração e a inovação, é primordial para o sucesso. Deve-se visar uma cultura que valorize a experimentação, o aprendizado e a adaptabilidade. Isso requer uma estrutura organizacional flexível, que promova a evolução ao longo do tempo, permitindo que papéis e responsabilidades mudem com base em necessidades e oportunidades emergentes.
Esse modelo de governança contribui para o fortalecimento da organização, proporcionando, assim, uma cultura de colaboração, transparência e responsabilidade, que alinha todos os membros com os objetivos estratégicos. A eficiência operacional é constantemente aprimorada por meio de processos fluidos, melhor comunicação e preparação das equipes. Um dos resultados é a atração e a retenção de talentos, impulsionadas por um ambiente de trabalho dinâmico, seguro e de constante aprimoramento e desenvolvimento.
*Marcela Argollo é professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), especialista em governança generativa e liderança regenerativa.