A Tabacaria Europa Lounge, que tem entre os sócios José Luiz Monteis, foi pensada nos mínimos detalhes para satisfazer seu cliente:
o apreciador de charutos de primeira linha
Por Walterson Sardenberg Sº Retratos Marcelo Spatafora
a fulgurante avenida europa, em São Paulo, se transforma, depois de muitos quarteirões, na Rua Colômbia e, mais à frente, na agitada Rua Augusta, antes de se transmutar em Rua Martins Fontes e terminar na Praça da Biblioteca. Bem antes disso, ela não vai além de uma vereda tranquila, encravada no seleto Jardim Paulistano. É no discreto núme- ro 614 da Avenida Europa que está instalada a Tabacaria Europa Lounge, o melhor enclave da cidade para os apreciadores de um bom charuto.
São oito ambientes muito confortáveis, onde os adeptos dispõem de boa música (em volume educado), drinques especiais, culinária de pri- meiríssima, quadros do artista plástico Joaquim Correa Pereira Júnior (mais conhecido por Jotapê) e muito espaço. Ali, a recepção é sempre carinhosa e a oferta de charutos mais do que variada e generosa — em um controladíssimo umidor.
À frente da Tabacaria Europa Lounge estão os sócios José Luiz Mon- teis, Yunier Alvarez Perez e Humberto Dominguez, todos entusiasma- dos fãs de um “puro”. Até pouco mais de dois anos atrás, Monteis era apenas um apreciador. Seus negócios estavam todos no setor imobiliá- rio, onde continua atuando. Foi quando, incentivado pelo cubano, ra- dicado no Brasil, Alvarez Perez, ele resolveu comprar a tabacaria. Não se arrependeu. “Foi ótimo transformar meu hobby em um empreendi- mento e receber os amigos”, diz o sorridente paulista, de 58 anos, mo- rador de Alphaville, entre uma e outra baforada
José Luiz Monteis – Fumo charutos há 17 anos. A paixão foi aumentando. Cresceu ainda mais no período da pandemia, porque eu ficava em casa, como todo mundo. Muito colaborou para isso o Yunier Alvarez Perez, que chamamos de Julien, que conheci há uns 15 anos. É cubano, master blend em charutos, e trabalhou na Cohiba, no seu país natal. A gente sempre bateu animados papos sobre charutos. Em janeiro de 2020, veio a possiblidade de adquirirmos a Tabacaria Europa, que estava para fechar em virtude da pandemia. Compramos e fizemos uma reforma bem grande. Passei a transformar meu hobby em empreendimento. Acabamos nos tornando sócios: eu, o Julien e o Humberto Dominguez.
JLM – Pois é, o Julien desenvolveu uma fábrica no 110 | | fev/mar.2023 fev/mar.2023 | | 111 Brasil, em Cruz das Almas, na Bahia. É lá que produzimos nosso charuto SEIS14. É feito com o tabaco cubra, cujas sementes vieram de Cuba. O SEIS14 é uma exclusividade nossa. Por que esse nome? Temos amigos cubanos que, ao se referirem ao nosso endereço, Avenida Europa, 614, não diziam “seiscentos e catorze”, mas “seis catorze”. É hábito deles.
JLM – O Brasil tem uma tradição no tabaco. No passado, o tabaco e o café estavam na nossa bandeira, e até hoje o tabaco é muito plantado no Recôncavo Baiano, onde as plantas se adaptaram melhor.
Yunier Alvarez Perez – Vou resumir: essa área do Recôncavo tem a temperatura, a umidade e o solo ideais para o cultivo do tabaco.
YAP – Cheguei ao Brasil em 2008 e entrei de sócio por um tempo em um restaurante em São Paulo, onde abrimos uma pequena loja de charutos do lado. Foi o começo. Saí da sociedade e montei a fábrica, há uns dois anos e pouco. Cerca de 70% da produção hoje é exportada para a Europa. O restante fica aqui. Já produzimos uns 150 mil charutos.
JLM – O Julien é craque. Com sua habilidade de master blend, desenvolveu vários blends e os trouxe para cá. A gente faz também alguns exclusivos para clientes que querem ter o seu próprio charuto. O nosso objetivo na Tabacaria Europa Lounge é receber os amigos da melhor maneira possível. É um lugar ideal para isso, porque tem oito ambientes diferentes, todos com wi-fi. O cliente pode, se quiser, almoçar aqui e fazer uma reunião de trabalho depois. Temos duas salas na parte de cima, também para reuniões. O que nos interessou na casa foram os ambientes separados.
Nós estamos aqui, batendo um papo, mas tem um grupo ali que também está conversando, e mais outro e mais outro. Tem gente que se reúne na sala de estar com TV
quando há jogos de futebol, de tênis. Todos os ambientes contam com privacidade. E há o deck, que é, digamos assim, o nosso melhorespaço, por ficar em um jardim.
“o consumo de tabaco, como o de vinho, aumentou muito na pandemia. isso ajudou a consolidar o mercado”
JLM – Sim. Temos o objetivo de sempre trazer conteúdo. Então, não é apenas fumar charuto.
Já fizemos degustações de champanhe, conhaque, ostras.
Sempre harmonizando com o charuto.
Temos uma parceria com o grupo de bebidas Pernod Ricard. Isso nos permitiu, por exemplo, abrir uma garrafa do melhor conhaque Cohiba Martell, que é o top da categoria, para a degustação dos clientes, sem cobrar um níquel a mais. Temos também uma parceria com César Adames, jornalista especializado em whisky e em tabaco.
Ele ministra palestras aqui.
JLM – O consumo do tabaco, assim como o do vinho, aumentou muito na pandemia. Houve diversas lives falando sobre tabaco, charuto, harmonização com vinho do Porto, com destilados. Isso ajudou a consolidar o mercado de charutos. Houve também o aumento do volume de marcas. Quando a
pandemia diminuiu, as pessoas queriam se encontrar para degustar um charuto. Isso deu vazão às confrarias. Há turmas que vêm aqui uma vez por semana, como a Alma Premium. Outra delas é a STF, ou seja, a Salto, Taça e Fumaça, uma confraria só de mulheres. A gente está vendo muitas meninas terem o seu momento de relaxamento com o charuto. Temos estacionamento, vallet, segurança na porta. Isso dá comodidade a quem chega aqui.
JLM – É um apreciador de charuto que vem para relaxar, degustar o charuto na tranquilidade, como se fosse a casa dele. Com a diferença de estar entre outros apreciadores e, por exemplo, poder degustar um charuto feito na hora pelo Julien. Também desenvolvemos,
com a Café por Elas, um café que harmoniza, um blend exclusivo. E criamos ainda o nosso Negroni, que é engarrafado e leva o nome da casa, o Capitão Haddock Europa.
JLM – Sim. Temos os cubanos, os charutos off-Cuba e os brasileiros. A Europa é uma casa chancelada pela Emporium Habanos, a única empresa responsável por importar charutos cubanos. Somos revendedores deles.
O selo Habanos Point certifica que todos os nossos charutos são importados oficialmente.
JLM – Exatamente: República Dominicana, Nicarágua e El Salvador, por exemplo. O clima favorece muito essa região na produção do tabaco. Outro fator é que, em função da Revolução Cubana, várias famílias que cuidavam da colheita do tabaco saíram do país para outras regiões do Caribe e América Central começaram novas plantações.
JLM – Nosso acervo é de R$ 500 mil em charutos. Um tesouro. Há charutos que, no território brasileiro, você só encon- tra aqui. Ainda oferecemos, por exemplo, algumas unidades do 55
Aniversario da Cohiba, lançado no ano passado. Deve-se lembrar
que a dificuldade de trazer charutos cubanos ficou maior devido ao mercado chinês, que compra volumes imensos.
JLM –Isso sempre muda um pouco. Eu diria que são o Cohiba 55 Aniversario e o Cohiba BIQ Behike. Uma unidade do 55 Aniversario sai por R$ 2,2 mil, e do Cohiba BIQ Behike 54, por R$ 1.980.
JLM –Saem, mas eu não diria que com frequência. São charutos comemora- tivos, fumados, por exemplo, numa formatura de filho, numa celebração de casamento. Vez ou outra, são consumidos por turistas estrangeiros em visita ao Brasil. Outro dia veio um grupo de alemães, que fez a festa.
JLM –Saem, mas eu não diria que com frequência. São charutos comemora- tivos, fumados, por exemplo, numa formatura de filho, numa celebração de casamento. Vez ou outra, são consumidos por turistas estrangeiros em visita ao Brasil. Outro dia veio um grupo de alemães, que fez a festa.
JLM –Não, porque o americano não está acostumado a fumar o cubano. Por quê? Porque não tem nos Estados Unidos. Por isso, o paladar do ameri- cano é para o charuto dominicano, nicaraguense..
JLM – É algo bastante interessante. As pessoas gostam de dividir o charuto em três terços e harmonizar cada terço com uma bebida diferen- te. Confesso que não tenho essa capacidade. Por isso, contratamos o Alexandre Avellar, que é um som- melier de tabaco e foi premiado em Cuba. Ele é brasileiro, mora em Belo Horizonte. Inclusive, costuma ser jurado de concursos de tabaco em Cuba. O Alexandre fez, para nós, a seleção de seis charutos na divisão de harmonização de três terços para cada um.
JLM – Exatamente. Quando você acende um charuto, o primeiro terço tende a ser mais leve, e vai se fortale- cendo até o final. Nossa carta é voltada para coquetéis clássicos e também alguns autorais. Acho que quem vem para degustar um charuto não gosta muito de invenções. Já chega com a ideia: “Vou fumar um charuto e tomar um coquetel, um Negroni, um Boulevardier”. As bebidas consideradas clássicas para a harmonização são o vinho do Porto, o whisky, o conhaque e o rum.
JLM – Fizemos uma parceria com o restaurante Aguzzo, de alta gastrono- mia italiana. Servimos os pratos criados por eles. Entre essas receitas está o nhoque, premiado como o melhor de São Paulo pela revista Veja. Temos também o Filetto Aguzzo, uma varia- ção do parmegiana. O cardápio não é grande, mas bastante generoso. Parte dele é mudada, de três em três meses, sempre com a assistência do Aguzzo
JLM – Servimos petiscos variados. Entre eles, os mini-hambúrgueres. Temos também empanadas argentinas, muito apreciadas. Além delas, há as brusque- tas, como a de muçarela de búfala, com trufas negras, que é um espetáculo.
JLM – Basta combinar. Pode ser lá no fundo, para até 25 pessoas. Ou para dez ou 12 nos outros ambientes. Pelo segundo ano consecutivo, fizemos um evento para a Mercedes-Benz, comemorando o final de ano deles. E aí a gente traz sempre alguém para falar de charuto, se for do interesse do contratante. O Julien participa construindo alguns charutos.
JLM – Foi. Estamos realmente trazendo para cá um pouco do que a gente gosta, fazendo um networking muito legal, conhecendo novos amigos, trocando informações. Então é bem bacana, bem prazeroso. Estou muito satisfeito com a decisão de adquirir e tocar adiante a Tacabaria Europa Lounge.