OS 28 ANOS DE DEDICAÇÃO DE FERNANDO COSTA À OFNER
ENTREVISTA
Fernando Costa, sócio e Diretor Executivo da Ofner
Por Amélia Whitaker
Fernando Costa desempenha um papel essencial na gestão e expansão da marca, impulsionando inovação, abertura de novas lojas e lançamento de produtos para atender ao mercado
Fernando Costa, sócio e Diretor Executivo da Ofner, integra a segunda geração da família que está à frente da rede de confeitarias fundada em 1952 por Anna Ofner e adquirida em 1972 pelos irmãos Américo e Mário Martins da Costa. Nos dias atuais o Conselho Administrativo é formado pelos irmãos Américo e Mário, além da irmã de Fernando, Kátia Costa, junto a um conselheiro externo. A administração atual conta também com o CEO Denilson Moraes, que traz experiência de outras empresas familiares, e com Alexandre Martins da Costa, que também é sócio e Diretor Executivo, além de um diretor comercial recém-contratado. Com mais de 28 anos dedicados à Ofner, Fernando desempenha um papel essencial na gestão e expansão da marca, impulsionando inovação, abertura de novas lojas e lançamento de produtos para atender ao mercado.
1. A Ofner se destaca pela tradição e inovação ao longo de 72 anos de história. Quais são os principais desafios e oportunidades em manter a relevância de uma marca de patisserie tradicional em um mercado tão dinâmico e competitivo como o de São Paulo?
R: Atualmente, nossos principais desafios estão focados no desenvolvimento das pessoas. Esse aspecto é crucial para garantir uma experiência excepcional ao cliente, pois o atendimento é a essência do nosso negócio. Em meio a um mercado cada vez mais competitivo, onde novos concorrentes surgem constantemente, também temos a inovação como uma prioridade constante. A cada mês e em todas as datas sazonais, buscamos lançar produtos e desenvolver campanhas para manter nossa oferta atrativa e alinhada com as expectativas dos consumidores. Recentemente, concluímos o Festival de Coxinha, e já estamos preparando novas campanhas, como o Festival do Eclair, o Festival do Mil Folhas eo Festival de Verão, entre outros. Além disso, estamos vencendo, o desafio de atrair o público mais jovem. Para isso, investimos em licenciamentos estratégicos que agregam valor à nossa marca e trazemos apelo para diferentes faixas etárias. Atualmente, já oferecemos produtos em parceria com a renomada Le Cordon Bleu, considerada uma das principais escolas de culinária do mundo. Recentemente, lançamos uma linha de chocolates em colaboração com a Hello Kitty, e temos outros lançamentos planejados que vão continuar surpreendendo nossos clientes. Assim, equilibramos a manutenção de uma qualidade excepcional, o desenvolvimento constante da nossa equipe e a inovação contínua para nos mantermos atualizados e relevantes no mercado.
2. A diversificação do cardápio é uma das marcas da Ofner, que recentemente passou a oferecer opções saudáveis e veganas, além dos itens tradicionais. Como a empresa equilibra essas mudanças com a preservação dos produtos clássicos que são preferência dos consumidores paulistanos?
R: Nós não focamos especificamente em produtos veganos. Temos opções sem açúcar, sem lactose e sem glúten, mas produtos totalmente veganos não fazem parte do nosso portfólio atualmente, mas estamos estudando produtos para esse linha. Quanto à diversificação do cardápio, além da variedade de bebidas quentes e frias com o nosso café, estamos sempre atentos ao mercado para lançar novidades ou adaptar e aprimorar produtos que já foram lançados. Um exemplo recente é a tendência do pistache, que ganhou destaque neste Natal, mas nós já lançamos o panetone de pistache em 2019 e, em 2020, o ovo de Páscoa recheado de pistache. Preservamos nossos clássicos atualizando as matérias-primas, sem comprometer a qualidade. O produto se mantém sempre em destaque, tanto no cardápio quanto na vitrine. Clássicos são clássicos, mas é essencial inovar e introduzir novidades. Temos produtos em nossa vitrine que, se fossem apenas pelo volume de vendas, poderiam sair de linha, mas que são importantes pelo seu público cativo, impacto visual e por atrair o apetite appeal. Mantemos a vitrine sempre cheia, colorida e com produtos ultra frescos.
3. O último festival de pistache da Ofner foi um grande sucesso. Como surgiu a ideia desse evento e como a empresa enxerga o impacto desses festivais sazonais na fidelização e no engajamento do público?
R: O último Festival de Pistache foi realmente um grande sucesso! A ideia surgiu naturalmente, pois já temos um histórico com produtos com pistache desde 2018 como tabletes, bombons, gelato, panetones e ovos de Páscoa. Percebemos que o pistache tinha um apelo especial entre nossos clientes, então decidimos explorar isso ainda mais com o festival. Para esse evento, desenvolvemos com ajuda de uma nutricionista uma série de produtos exclusivos, como bolos, doces, panificados com pistache e até um pão de queijo com toque de pistache, que acabaram se tornando um dos favoritos. Nosso objetivo foi oferecer uma experiência única e criar um motivo especial para os clientes que nos visitam diariamente, além de fortalecer o relacionamento com o público ao dar a eles algo novo e diferente para experimentar. O impacto foi extremamente positivo, com um crescimento de quase 20% nas vendas durante o período do festival. Além disso, conseguimos identificar produtos que tiveram uma ótima performance e mantivemos alguns deles no nosso cardápio, como o famoso pão de queijo de pistache e o Eclair Pistache. Esses festivais sazonais são uma maneira estratégica de engajar e fidelizar o público, pois permitem que eles experimentem novidades e se conectem com uma marca de forma mais emocional e exclusiva. Cada edição traz algo especial e, ao mesmo tempo, reforça a percepção da Ofner como uma marca inovadora e atenta aos desejos dos clientes.
4. A Ofner desenvolveu iniciativas como o Ofner Professional e o L’Atelier Ofner, diversificando ainda mais os canais de atuação da marca. Como esses projetos têm contribuído para a expansão da Ofner e a construção de novas experiências para o cliente?
R: O desenvolvimento dos projetos Ofner Professional, L’Atelier Ofner e Ofner Américas tem sido essencial para a expansão e internacionalização da marca e para a criação de novas experiências para nossos clientes. O Ofner Américas, por exemplo, nos permite exportar produtos sazonais para a Costa Leste dos Estados Unidos, de Miami a Nova Iorque, e temos visto um crescimento constante todos os anos. Esse projeto surgiu após análises de mercado e foi impulsionado pelo interesse de levarmos nossa qualidade e tradição para o exterior. Atualmente, além dos EUA, estamos exportando também para o Chile, Paraguai e Uruguai. Até mesmo realizamos um teste nos Emirados Árabes, com um panetone especialmente desenvolvido para o mercado local, feito com tâmaras, damascos e ameixa preta. A ideia é ver se o produto conquista o paladar desse público.
Já o Ofner Professional nasceu da demanda de outras empresas, que nos procuraram para desenvolver produtos exclusivos para elas. Com nossa capacidade de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), conseguimos criar receitas autorais e fornecer produtos personalizados para alguns players do mercado. Por fim, o L’Atelier Ofner foi criado para atender a pedidos especiais, como bolos de casamento, de debutante, festas corporativas e eventos de grande porte. Esse setor da Ofner é dedicado exclusivamente à produção sob encomenda, oferecendo doces exclusivos e personalizados de acordo com a decoração e o estilo de cada evento. Por exemplo, fomos responsáveis pela mesa de doces do leilão beneficente do Neymar e por casamentos que tiveram grande repercussão nas redes sociais. Esses doces são únicos, feitos sob demanda, e geralmente não estão disponíveis nas nossas vitrines. Esses projetos, juntos, não só ampliaram os canais de atuação da Ofner como também reforçaram nossa presença no mercado e a experiência única que oferecemos aos nossos clientes.
5. Sustentar um negócio no Brasil é um desafio devido à instabilidade econômica e às constantes mudanças no mercado. Em sua visão, quais são as principais estratégias para manter a Ofner competitiva e ao mesmo tempo inovadora, garantindo a qualidade e a satisfação dos clientes?
R: A pergunta é verdadeira. Sobreviver no Brasil realmente não é uma tarefa fácil. O que mantemos como princípio é evitar aventuras financeiras. Não trabalhamos com franquias; toda a rede é própria, e o capital é nosso. Não alavancamos a empresa; ela cresce de forma sustentável, acompanhando o caixa e aproveitando as oportunidades que surgem. Com isso, fortalecemos e consolidamos cada vez mais a marca, mantendo preços justos e exercendo um controle rigoroso. Hoje, a empresa está muito bem estruturada em termos de gestão e controle. Trabalhamos com um dos melhores sistemas de ERP do mundo, o TOTVS Protheus, que oferece uma estrutura sólida. Essa base nos permite um controle rígido e justo, minimizando o desperdício e otimizando os processos. Nosso programa de treinamentos é outro diferencial importante. Vamos implementar esse treinamento online e utilizamos uma plataforma de compras que busca as melhores matérias-primas do mercado. Além disso, contamos com um quadro de profissionais altamente qualificados, incluindo confeiteiros, auxiliares, chefs, nutricionistas e engenheiros de alimentos. Esse conjunto de fatores assegura o padrão de qualidade dos produtos, a experiência do cliente, a reputação e o fortalecimento da marca.
A legislação tributária no Brasil, confesso, é um grande desafio. No entanto, o que nos resta é trabalhar arduamente, dedicando muito esforço. Aqui, trabalhamos no mínimo 10 horas por dia, e a Ofner não fecha. Funcionamos 365 dias por ano, sem exceção. Algumas lojas de rua, como as unidades de Moema e João Cachoeira, funcionam 24 horas aos finais de semana, de sexta para sábado e de sábado para domingo. O cliente que chega às 22h encontra uma vitrine cheia, com produtos frescos e de qualidade. Nas lojas de rua, mantemos uma mini confeitaria onde os produtos são preparados constantemente, garantindo a qualidade que nossos clientes esperam.
Esse compromisso com a excelência reflete a nossa preocupação com as pessoas – tanto com nossos colaboradores quanto com nossos clientes. Saímos daquela antiga visão onde o colaborador ficava de um lado e o empresário do outro. Hoje, o empresário precisa estar mais próximo do colaborador, investindo em sua formação, oferecendo treinamentos e reciclagens constantes. Afinal, além de seguir as receitas e produzir os produtos com precisão, o colaborador é o elo direto entre a Ofner e o cliente. A experiência do cliente é essencial para nós, e, para isso, precisamos investir nas pessoas.