The President

entrevista

Emocionadora

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Emocionadora

A mineira Lizete Ribeiro começa a comandar o grupo Tauá, uma rede hoteleira que, antes de tudo, procura tocar o coração dos hóspedes com um atendimento de primeiríssima qualidade

Tudo começou em 1986, quando o casal mineiro Lizete Chequer e João Pinto Ribeiro resolveu construir quartos para hospedar visitantes em um sítiozinho próximo a Belo Horizonte. Era o início, descompromissado, do Grupo Tauá, hoje uma companhia de ponta no ramo hoteleiro. A empresa tem no portfólio um hotel (o Grande Hotel Termas de Araxá, em Minas Gerais) e três resorts, em Caeté (MG), Atibaia (SP) e Alexânia (GO). Está construindo mais um, em João Pessoa. Todos de grande porte. Além disso, conta também com um hotel corporativo no interior de São Paulo.

O sucesso do grupo se sustenta em três pilares: o lazer das famílias, as convenções de empresas e, sobretudo, o atendimento mais do que atencioso. “Queremos tocar o coração dos hóspedes”, resume Lizete Ribeiro, a filha caçula dos fundadores do Tauá. A partir de janeiro, ela será a CEO do conglomerado, que, no total, administra 2 mil quartos. São também 2 mil funcionários, que Lizete trata por “emocionadores”. Treinados com afinco para deixar os hóspedes felizes e à vontade, eles são, segundo ela, a principal razão de a companhia ter a polpuda previsão de faturamento de 450 milhões de reais em 2023 e 623 milhões no ano que vem.

THE PRESIDENT - Como começou o Tauá?

Lizete Ribeiro – Com os esforços dos meus pais. Meu pai é um self-made man. Foi trocador de ônibus e camelô. Só aprendeu a ler e escrever aos 18 anos. Entusiasmou-se e montou um curso supletivo, em Belo Horizonte. De uma salinha, passou para um lugar maior. E assim sucessivamente. Minha mãe foi dar aulas de geografia no supletivo e eles se conheceram, namoraram, noivaram e se casaram em quatro meses. Compraram um terreno a 45 km de BH, em Caeté, e fizeram um sítiozinho. Já então os três filhos haviam nascido. João Luiz é o mais velho, Daniel, o do meio, e eu, a caçula. Quando o sítio completou 1 ano, meus pais notaram que ele só dava despesas. Os amigos vinham nos fins de semana, se hospedavam, comiam e bebiam de graça. Meu pai teve a brilhante ideia de construir quartos e cobrar por eles. Os amigos nunca mais voltaram. (risos) Então surgiu o primeiro hotel da rede. Meus pais fizeram 22 apartamentos. Nasceu o Hotel Fazenda Tauá. No primeiro ano, deu prejuízo. Pouca gente conhecia. Mas meus pais tinham uma qualidade forte, que é a cultura de servir bem, de agradar as pessoas. Ficamos conhecidos como o hotel do sorriso, do bom atendimento, das pessoas se sentirem em casa. É a razão de nosso sucesso.

Qual era a estrutura dele?

Ele tinha piscina, quadra de esportes e alguns cavalinhos. Mas isso não foi a razão do sucesso. O melhor era a proximidade de BH e, em especial, o atendimento. Ainda assim, o hotel enchia nos fins de semana, mas não tinha movimento de segunda a sexta. A conta não fechava. Em 1987, um ano depois da abertura, descobrimos a outra vocação dele, além de acolher famílias. Na época, grandes companhias, como a Vale do Rio Doce, começaram a fazer convenções fora das cidades. Meu pai entendeu que era o caso de construir salas de reuniões para atender essa demanda. E não parou mais de construir. A partir de 1990, os filhos entraram nos negócios e herdaram a mania de trabalhar sempre e mais. E o Tauá Caeté foi crescendo. Hoje tem mais de 30 salas de evento e 350 quartos.

O nome Tauá veio de onde?

É uma palavra indígena e significa “argila amarela”. Queríamos um nome pequeno, curto e bem brasileiro.

E o segundo hotel?

A partir de 2000, começamos a debater o assunto. De início, a ideia era construir perto do Rio de Janeiro. O sonho do mineiro é ir para a praia. (risos) Queríamos um hotel à beira-mar, mas não achamos o terreno. Eram, todos protegidos por área ambiental ou muito caros. Meus pais decidiram construir próximo a São Paulo. Avaliamos que tinha de ser até 50 minutos da capital. Pensamos em Atibaia porque há muitos hotéis na região. Então devia ser bom. Inauguramos em 2008, com 72 apartamentos, piscina, restaurante e uma sala de convenções. Ficou conhecido como “o hotel dos mineiros”. O que trouxemos de diferente? Cumprimentávamos as pessoas com carinho. E isso foi se espalhando. Treinamos muito os colaboradores, nossos “emocionadores”, na cultura da empresa.

Lazer em família: curtindo a lagoa

O hotel em Atibaia cresceu logo?

No ano seguinte, já tinha 144 quartos. Construímos mais salas de convenções. Em 2010, surgiu a oportunidade de administrar o Grande Hotel Termas de Araxá. Entramos em uma licitação, porque o hotel pertence à Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais, do governo estadual. O hotel completará 80 anos no ano que vem. Foi construído pelo presidente Getúlio Vargas e pelo governador Benedito Valadares. Queriam fazer o maior hotel de termas das Américas, e fizeram. Foi erguido entre 1939 e 1944, em meio à guerra. O material veio todo da Europa. Começou como um hotel-cassino. Mas no ano seguinte o presidente Eurico Dutra proibiu o jogo. O cassino não durou nem um ano. Virou um hotel só focado nas termas. Entrou em decadência e foi fechado. Depois reabriu, administrado pela Tropical e, mais tarde, pelo Ouro Minas. Em 2010, houve uma nova licitação. Não apareceu nenhum outro doido para concorrer. Começamos a administrar em março do mesmo ano. Cuidar desse patrimônio é muito difícil. Seguimos com a ideia de um hotel para a família e para as convenções de empresas. Enquanto isso, o hotel em Atibaia crescia. Em 2018, o transformamos no maior resort para eventos do Brasil. São hoje 59 salas para convenções e 538 apartamentos. Entre os clientes estão JBS, Coca-Cola, Ambev, Itaú, Nestlé, Volkswagen.

Como surgiu o parque aquático indoor, uma das maiores atrações do resort em Atibaia?

Gostamos de trazer coisas diferentes, inovar. Fizemos um benchmarking nos Estados Unidos. Em 2018, viajamos, nós cinco, e visitamos dez resorts próximos a Nova York. Em todos havia um parque aquático indoor, ou seja, em ambiente fechado. Achamos o máximo, mas pensamos: é fechado porque neva. Mas, ora essa, no Brasil chove. Em outubro de 2019, inauguramos em Atibaia o primeiro parque aquático indoor da América Latina. Em dias de chuva, o parque continua funcionando. Em um resort normal, quando chove, as crianças ficam no quarto. No Tauá de Atibaia, não. O lema do parque é “tempo bom o tempo todo”. As empresas também aproveitam. A Riachuelo fez uma convenção e deu uma festa à noite no parque aquático.

E o Tauá de Alexânia?

Ainda em 2017, chegamos à conclusão de que precisávamos fazer mais um hotel. Mas onde? Decidimos pela região de Brasília. Você tem ali um PIB altíssimo, mas não havia nenhum grande resort por perto. Compramos uma fazenda de 3 milhões de metros quadrados em Alexânia, a 50 minutos do aeroporto de Brasília. O Tauá Resort Alexânia já nasceu robusto, com 424 quartos. Foi o nosso maior investimento. Iríamos inaugurar em abril de 2020, mas veio a pandemia. Em 16 de março fechamos os hotéis. Um momento terrível para a hotelaria. Para complicar ainda mais, sempre fomos uma empresa que investe no negócio o tempo inteiro. E estávamos investindo alto em Alexânia. Ou seja, nossa única reserva era o cartão de crédito. Aí parou de entrar dinheiro. E nós com a folha de pagamento de 1,2 mil funcionários! Não quebramos por um triz. O banco Itaú nos concedeu 35 milhões de reais de empréstimo e nos salvou. Pouco mais de um mês depois, reabrimos o Caeté, mas com diversos protocolos novos e restrições. Nossa marca registrada era o sorriso. Mas como mostrar o sorriso usando máscara?

E então?

Continuamos sorrindo com os olhos. Apesar de tudo, tornamos o atendimento ainda mais afável. Isso aconteceu graças aos emocionadores, porque a função deles é tocar o coração dos hóspedes. Enfim, reabrimos os hotéis ainda em 2020. Em outubro, inauguramos o Tauá Alexânia. Quitamos a dívida com o Itaú em menos de um ano. Só retomamos os eventos em 2022, e eles eram 50% da nossa receita. A sorte é que o turismo de lazer voltou com tudo no pós-pandemia.

Por que essa volta triunfal?

Nossos hotéis são próximos das capitais e estava todo mundo ansioso para viver ao ar livre, conviver com a família, juntar os amigos. O nosso movimento de 2022 foi recorde. E 2023 está sendo melhor ainda. Em Atibaia, vamos inaugurar mais 250 quartos e um restaurante para 1,2 mil pessoas. E também uma piscina de ondas, entre outros brinquedos aquáticos. Haverá ainda uma piscina exclusiva para os membros do Mais Tauá, um programa especial de benefícios diferenciados. Em Alexânia, estamos construindo um parque aquático indoor, como o de Atibaia.

Quando será inaugurado o Tauá de João Pessoa?

Em dezembro de 2025. Fica a 20 minutos do centro de João Pessoa, numa área protegida. Tem uma reserva ambiental à direita e outra à esquerda. Somos uma empresa que constrói o tempo todo.

Seus pais continuam no negócio?

Já se aposentaram. Ele tem 78 anos, e minha mãe, 72. Agora eles curtem a vida. Muito justo. João Luiz, meu irmão mais velho, tem agora a empresa dele, mas faz parte do conselho do grupo. Meu outro irmão, Daniel, será o CEO até janeiro, quando assumirei o cargo. Ele ficará como presidente do conselho.

Dá para você resumir a sua formação?

Tive a melhor escola, com os meus pais, que sempre atribuíram um valor enorme ao trabalho. Com 9 anos, eu já trabalhava. Meu primeiro emprego no hotel foi arrancar mato. (risos) Lavei muita bandeja na cozinha, cuidei da limpeza. Cursei faculdade de administração de empresas na Universidade Federal de Minas Gerais, enquanto trabalhava. Há dez anos, fiz um MBA na Fundação Dom Cabral. Foi maravilhoso. Abriu muito a minha cabeça. Fiz outros cursos e isso ajudou bastante. Sou casada há 18 anos, tenho dois filhos e uma enteada maravilhosa, e permaneço sempre trabalhando. Tenho orgulho de ser workaholic.

Você incentiva a contratação de mulheres?

Elas já são 53% do contingente da empresa, e muitas em cargos de liderança. A vida para a mulher é mais difícil, pois ela tem jornada dupla. Mas isso está mudando. Meu marido, Sidney, trabalhava como executivo e viajava para São Paulo todas as semanas. Decidimos que ele ficaria mais com as crianças. Ele deixou o antigo cargo e montou uma fábrica de cerveja perto de casa, um negócio bem-sucedido, que permite que fique com as crianças. Torço para que existam cada vez mais Sidneys para que cada vez mais Lizetes possam estar à frente, liderando.

O Grupo Tauá aparece em pesquisas como uma das melhores empresas para trabalhar. Como vocês se orientam nesse sentido?

O nosso maior foco é fazer os emocionadores felizes também. Se não estiverem, não farão os hóspedes felizes. Em nossos programas internos, oferecemos casas para que passem as férias, em cidades como Guarapari (ES), Cabo Frio (RJ), Campos do Jordão (SP) e Caraguatatuba (SP). Também há dias em que trazem os filhos para viver a experiência do Tauá. Temos uma área de apoio psicológico e criamos o nosso Desenrola, que empresta dinheiro e paga as dívidas dos emocionadores que estão precisando. Assim, podem limpar o nome e viver com tranquilidade. Trouxemos uma consultoria financeira para isso. É um ambiente de trabalho muito gostoso.

E os planos de expansão?

Existe espaço para um resort perto de Curitiba e queremos construir outro em São Paulo, também perto da capital. Há ainda o antigo plano de abrir mais um no Rio de Janeiro. A gente não para!