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entrevista

A revolução que flutua

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A revolução que flutua

Com a transformação do conceito de lazer sobre águas, Valéria De Fusco Pereira e Benedito Prado Neto lideram a VCAT, o primeiro estaleiro de pontoon boats da América Latina

Por Raphael Calles

Retratos Filipe Savioli

Ela é de Virgem. Ele também. O signo do olhar atento aos detalhes. Também do humor inteligente e do cuidado com os outros. Valéria De Fusco Pereira e Benedito Prado Neto formam o casal que idealizou e fundou a VCAT, a primeira fábrica de pontoon boats da América Latina. Sem filhos, eles dedicam à fábrica o carinho e a atenção que se dão a uma cria, cuidando de cada barco com zelo extremo. “A VCAT não está no mercado náutico, mas na indústria do entretenimento”, afirma Neto. Para o casal, os barcos são apenas um dos meios de oferecer experiências inesquecíveis. Tal mentalidade também motivou o investimento em uma pousada flutuante e outros produtos que complementam a experiência do cliente. Ela está em expansão e reflete o desejo do casal de oferecer novas formas de lazer. O compromisso com a qualidade, aqui, se une à sustentabilidade e à inovação. Nascida de uma paixão por construir e inovar, a VCAT introduziu o conceito de pontoon boats em um Brasil, e na América Latina, ainda pouco familiarizado com embarcações voltadas ao lazer democrático. Hoje, com mais de 850 barcos navegando pela América Latina, Valéria e Neto não só abriram caminho para esse novo modelo, mas também consolidaram a marca como um sinônimo de excelência. A VCAT também se orgulha de ter mais de 50% de mulheres e pessoas acima dos 50 anos na equipe. Para este ano, a companhia se prepara para ser equipada com o sistema SAP, que promete maior eficiência, transparência e controle, além de buscar por certificações e parcerias com fornecedores nacionais e sustentáveis. O pontoon boat utiliza uma estrutura trimarã (três cascos unidos), que oferece maior estabilidade e eficiência, além de ser fácil de manter. Com áreas amplas e planas, é ideal para lazer e convivência tanto em água doce quanto salgada, em áreas interiores e costeiras, atendendo famílias, amigos e até seus pets. Com uma fábrica em Itatiba, a 82 km de São Paulo, cidade estrategicamente posicionada para o mercado nacional e exportação para países como Argentina e Paraguai, Valéria e Neto não escondem o entusiasmo sobre novos projetos. Entre eles, motores elétricos e casas flutuantes, que prometem ampliar ainda mais o impacto da VCAT. Com cada detalhe repensado, a VCAT conta com um Mockup Center, o único no Brasil. Ali os clientes em potencial podem explorar detalhes das embarcações e vivenciar, mesmo antes da compra, a experiência e o conforto de estar em um VCAT.

THE PRESIDENT _ De onde veio essa paixão pela embarcação?

Benedito Prado Neto Eu vou te falar que não tem paixão por embarcação.

Valéria de Fusco PereiraA gente não é apaixonado só por embarcações ou por mar. Somos apaixonados por muitas coisas. Barco é só mais uma. Eu gosto de construir coisas, como a pousada flutuante que temos hoje, que estamos ampliando para trazer a experiência também para a terra. Então, não é uma paixão específica, mas algo que gostamos de fazer. O Neto sempre gostou de navegar e chegou a construir o próprio barco como hobby. Quando decidimos sair de nossas carreiras individuais, pesquisamos ideias e vimos os pontoons nos Estados Unidos. 

BPN – Inicialmente, pensamos em importar e vender, mas era muito complicado. Visitando uma fábrica nos Estados Unidos, o proprietário disse: “Você vai importar tubo cheio de ar, com matéria-prima originária do Brasil? Faça isso lá”. Foi aí que começamos o desafio, juntamente com Marcos Paulo Ferreira, nosso parceiro de todas as horas nos desafios.

Como o pontoon boat se diferencia de outras embarcações e como foi sua aceitação no Brasil?

BPN – O casco é a principal diferença. Enquanto iates e lanchas usam cascos do tipo monocasco, o pontoon boat utiliza um casco catamarã ou trimarã, mais eficiente e estável, com uma economia de até 30% em combustível e manutenção 70% mais barata. Ele não aderna, dispensa bomba de porão e é mais sustentável. No início, o nome pontoon soava estranho para os brasileiros, mas optamos por mantê-lo, para conectar com o sucesso do modelo no exterior. Hoje, ele já é reconhecido no mercado nacional e no mercado da América Latina.

VFP – O pontoon é espaçoso, ideal para passeios diurnos e simples de manter. Apesar de não ser feito para dormir, atende perfeitamente, já que 90% dos usuários não dormem a bordo. Foi um desafio educar o cliente em um mercado náutico pequeno. Por isso, investimos em uma experiência diferenciada na fábrica. Em vez de participações em feiras tradicionais, lançamos o Mockup Center, com os modelos de embarcações em escala natural, para poder proporcionar uma imersão do cliente na nossa marca.

BPN – Muitos chegam a nós após experiências com outros barcos e reconhecem nossas vantagens. Consolidamos o conceito no Brasil em 15 anos, conectando inovação e tradição.

Como foi transformar a VCAT em sinônimo de pontoon boat no Brasil e na América Latina?

VFP – Desde o início, trabalhamos para que o nome VCAT fosse mais do que uma marca. A ideia era torná-lo um sinônimo de pontoon boat. Queríamos que as pessoas pensassem em VCAT, e não apenas no conceito geral de pontoon. Hoje muitos perguntam se somos os responsáveis por todos os VCATs. Esse reconhecimento é resultado de um esforço constante para posicionar a marca como uma referência tanto no Brasil quanto na América Latina.

BPN – No Mercado Livre, por exemplo, você não encontra um VCAT usado à venda, porque quem tem não quer vender. Enquanto isso, alguns concorrentes tentam usar nosso nome para alavancar seus produtos, o que só reforça a associação da nossa marca ao conceito no Brasil.

VFP – Além disso, o reconhecimento veio de fora também. Este ano, fomos convidados pela Pontoon and Deck Boat Magazine (PDB), a principal revista do setor nos Estados Unidos, para acompanhar os testes das principais marcas norte-americanas que lançam as tendências de mercado de pontoon boats. Embora não tenhamos conseguido enviar um barco para Indiana, fomos reconhecidos internacionalmente, o que valida e muito o nosso trabalho. É muito gratificante.

BPN – As cópias no mercado apenas confirmam que abrimos o caminho. Somos pioneiros e nos tornamos
a referência do mercado na América Latina.

Por que o mercado norte-americano de embarcações é tão diferente do brasileiro?

BPN – Nos Estados Unidos, a cada dez barcos vendidos de até 25 pés, oito são pontoon boats. Eles têm acesso a algo que não existe no Brasil: crédito. Tudo é financiado, com parcelas distribuídas entre 400 e 700 dólares. A classe média nos EUA tem uma preocupação diferente: como comprar seu primeiro Power Boat. Enquanto no Brasil a classe média está preocupada em como pagar a escola dos filhos.

Como vocês avaliam o crescimento do mercado de barcos no Brasil e na América Latina, e como a VCAT está se posicionando nesse cenário?

VFP – Quando começamos, precisávamos vencer a barreira de trazer o conceito do produto. Nos primeiros anos, vender um barco era uma conquista porque dependíamos da confiança de quem acreditava em nós. Com o tempo, a experiência dos clientes atraiu outros. A partir do barco número 50, especialmente no Centro-Oeste, onde há muitos lugares de águas abrigadas, nosso produto foi bem aceito e a demanda cresceu. Conseguimos dobrar a produção por cerca de quatro anos seguidos, mas agora estabilizamos em 250 barcos por ano. Quanto à América Latina, desde 2018 temos uma parceria com a Argentina. Enviamos barcos desmontados, em kits que são montados e vendidos localmente, e com o Paraguai enviamos os barcos prontos. 

“Temos uma fábrica otimizada, com 100 funcionários. Nossa meta é manter nossa capacidade de produção pelos próximos três ou quatro anos”

Como funciona a logística de exportação da VCAT e quais são os mercados mais promissores na América Latina?

VFP – Nossa logística é bastante otimizada. Para a Argentina, leva apenas dois dias e enviamos cinco barcos em um único caminhão. O mercado argentino é forte, com mais de 50 barcos nossos já em operação. Eles adoraram o conceito do pontoon boat, que se tornou muito popular. Recentemente, começamos a exportar para o Paraguai. Estamos também em contato com Uruguai e Chile, muito interessados no produto. Com a nossa planta mais recente, onde estamos há dois anos, conseguimos estabilizar a produção e investir na expansão para esses mercados.

Quantos VCATs há no mercado?

VFP – Hoje temos mais de 850 pontoon boats na América Latina, o que nos enche de orgulho. Foi um desafio fazer o mercado crescer, mas agora o conceito está consolidado, e isso só reforça a nossa crença nesse modelo de barco. Ele oferece uma área de convivência democrática, perfeita para crianças, idosos e até animais de estimação. Sabíamos que, quando caísse no gosto do brasileiro, outros fabricantes entrariam no mercado, o que só mostra o potencial de crescimento desse segmento.

Como pretendem equilibrar a produção de 250 barcos por ano com a manutenção da qualidade e o desenvolvimento de novos projetos?

BPN – Atualmente, temos uma fábrica otimizada, com 100 funcionários. Nossa meta é manter nossa capacidade de produção pelos próximos três ou quatro anos, com foco em modelos que tragam maior retorno, mesmo que em menor quantidade. Além disso, estamos investindo em novos projetos, como casas flutuantes e não flutuantes, desenvolvidas com perfis próprios para uma montagem rápida. Nossa pousada flutuante é o piloto desse conceito. À medida que essa área crescer, talvez precisemos ampliar nossa estrutura para atender a novos produtos.
A expansão está nos planos, mas será focada em diversificar nossa linha de produtos, mantendo a qualidade e o cuidado característicos da nossa marca.

Como vocês enxergam a tendência de eletrificação nos barcos e o movimento para o uso militar das embarcações da VCAT?

BPN – A eletrificação em embarcações é um movimento natural e já consolidado em alguns setores, como submarinos e trens, que utilizam motores elétricos como propulsão principal. No mercado militar, nosso produto foi muito bem aceito pelos policiais, bombeiros e mergulhadores que testaram nossas embarcações. No entanto, a adoção de novos tipos de embarcação nesse setor depende de processos que levam tempo devido às especificações técnicas vigentes. Por isso, estamos priorizando outros projetos e inovações nesse momento.

Quantos VCATs há no mercado?

VFP – Hoje temos mais de 850 pontoon boats na América Latina, o que nos enche de orgulho. Foi um desafio fazer o mercado crescer, mas agora o conceito está consolidado, e isso só reforça a nossa crença nesse modelo de barco. Ele oferece uma área de convivência democrática, perfeita para crianças, idosos e até animais de estimação. Sabíamos que, quando caísse no gosto do brasileiro, outros fabricantes entrariam no mercado, o que só mostra o potencial de crescimento desse segmento.

Como pretendem equilibrar a produção de 250 barcos por ano com a manutenção da qualidade e o desenvolvimento de novos projetos?

BPN – Atualmente, temos uma fábrica otimizada, com 100 funcionários. Nossa meta é manter nossa capacidade de produção pelos próximos três ou quatro anos, com foco em modelos que tragam maior retorno, mesmo que em menor quantidade. Além disso, estamos investindo em novos projetos, como casas flutuantes e não flutuantes, desenvolvidas com perfis próprios para uma montagem rápida. Nossa pousada flutuante é o piloto desse conceito. À medida que essa área crescer, talvez precisemos ampliar nossa estrutura para atender a novos produtos.
A expansão está nos planos, mas será focada em diversificar nossa linha de produtos, mantendo a qualidade e o cuidado característicos da nossa marca.

Como vocês enxergam a tendência de eletrificação nos barcos e o movimento para o uso militar das embarcações da VCAT?

BPN – A eletrificação em embarcações é um movimento natural e já consolidado em alguns setores, como submarinos e trens, que utilizam motores elétricos como propulsão principal. No mercado militar, nosso produto foi muito bem aceito pelos policiais, bombeiros e mergulhadores que testaram nossas embarcações. No entanto, a adoção de novos tipos de embarcação nesse setor depende de processos que levam tempo devido às especificações técnicas vigentes. Por isso, estamos priorizando outros projetos e inovações nesse momento.

A VCAT também tem um projeto para a COP30?

BPN – Estamos desenvolvendo casas flutuantes modulares para a COP30, em Belém do Pará, para ajudar na acomodação de visitantes, já que a cidade enfrenta um déficit de hospedagens. Após o evento, essas casas poderão ser doadas ou redirecionadas para projetos sociais em comunidades da Amazônia, em parceria com entidades como Unesco e Amazônia+21, que já se interessaram bastante pelo modelo.

VFP – Esse projeto realiza um sonho antigo da VCAT: criar barcos e estruturas que atendam comunidades remotas, como barcos-escola e consultórios flutuantes, e agora estamos próximos de concretizá-lo.

Quais são os desafios logísticos que a VCAT enfrenta ao expandir suas operações dentro de um país continental como o Brasil, especialmente em regiões muito distantes da fábrica?

VFP – É um grande desafio. Já vendemos barcos para Roraima e Rondônia, e o transporte pode levar até um mês. Nessas regiões, as condições das estradas muitas vezes afetam o barco, que é muito leve, pesando apenas
1 tonelada, diferente de uma lancha de 6 toneladas. Isso faz com que caminhões leves trafeguem mais rápido, causando desgaste no transporte. Apesar disso, temos muitos barcos no Amazonas, Roraima, Rondônia e Pará, onde já entregamos dois Alvoradas, nosso maior produto. No Maranhão, também temos barcos desse modelo, mesmo enfrentando os desafios logísticos dessas localidades.

BPN – Planejamos criar um novo CKD no Nordeste. Estamos negociando a compra de um terreno para ampliar nossas operações, como já fazemos na Argentina e no Paraguai. 

O que o Alvorada representa para a empresa?

VFP – O Alvorada é o maior pontoon boat feito em série no mundo, algo que sempre destacamos. 

BPN – O barco no Brasil é um produto voltado para o público AAA, devido ao ticket médio alto, que no nosso caso varia entre 600 mil e 700 mil reais, chegando a 1,4 milhão no caso do Alvorada. Isso restringe o mercado. Além disso, o brasileiro não foi ensinado a gostar de barcos, o que dificulta a popularização. Outro desafio é a regulamentação. No Brasil, categorias como esporte e recreio e transporte de passageiros são controladas por uma instituição militar, a Marinha, o que seria como levar um carro ao Exército para a documentação. É um sistema ilógico e pouco prático. No Brasil, a Marinha de Guerra controla o esporte e o recreio, mas não incentiva o uso de barcos, tornando o processo burocrático e restrito. Diferente dos Estados Unidos, que têm a Guarda Costeira civil. Aqui não há uma instituição adequada, o que dificulta o desenvolvimento do setor. Além disso, a limitação na documentação, como em Santos (SP), com apenas 20 barcos por dia, é um obstáculo adicional. Para atender ao público mais rico, que é o foco, precisamos oferecer cada vez mais qualidade e diferenciação.

Como vocês lidam com a fidelização dos clientes?

BPN – Temos clientes no terceiro barco conosco. Muitos trocam o modelo antigo por novos, mas há quem mantenha os dois. Esse mercado de usados cresce porque nossos barcos não deterioram e mantêm o valor. Há casos de clientes que retrofitaram barcos antigos para continuar usando. É um mercado que se autorregula. 

Como vocês avaliam o desenvolvimento e a qualidade dos barcos ao longo dos anos?

BPN – Hoje me sinto muito confortável ao entrar nos nossos barcos. Visitamos um cliente recentemente e, ao ver os detalhes e acabamentos, percebi como evoluímos.

VFP – O cuidado nos detalhes e a satisfação dos clientes mostram o quanto estamos no caminho certo.