Os relógios andam lépidos demais, os ponteiros varrem anos em segundos. Mas dá para revisitar com leveza os melhores momentos da vida
Por Messina Neto*
Deter o tempo ou compreender sua efemeridade? Os dois? Isso só é possível se revermos dentro de nós o sentido da vida. Hoje sabemos que ela não corre, mas voa, que tem caminhos, descaminhos, atalhos e que a velocidade somos nós que determinamos. Seguimos uma estrada de que conhecemos só o início, não enxergamos o final e que, ao longo da trajetória, aponta para uma infinidade de destinos possíveis. E esse é o mistério. A motivação que muitos buscam está nas escolhas.
Nessa tarefa de viver a vida, Sísifos que somos, temos muitos aliados que nos ajudam a tornar o caminho suportável, mesmo nos piores aclives, tendo de empurrar a rocha que é a metáfora de nossa existência, escada acima.
Felizmente a arte nos salva de tudo, inclusive da barbárie. E o cinema, apoiado em todos os avanços tecnológicos, é capaz de recriar os sonhos mais implausíveis, e com isso nos ajuda a lidar melhor com o tempo. Dá mais graça à vida, que, sem a arte, muitas vezes é um teatro de interpretações baratas com diálogos mal escritos.
Durante um filme, vivemos mil anos, na pele de personagens comuns, incomuns e muitas vezes inclassificáveis. Exorcizamos os espíritos sombrios e sublimamos nossas carências em seus vazios existenciais. Pegamos emprestado suas emoções, fazemos delas nossas mazelas ou conquistas e podemos sonhar como seria nossa vida se reagíssemos como nossos protagonistas reagem nos filmes.
Então o segredo está em roteirizar a vida como se estivéssemos interpretando uma história? Não necessariamente. Mas pode ser um jeito divertido de gastar o tempo. Não vai assegurar a felicidade antes dos créditos finais, mas pode ajudar a escolher melhor certos desfechos. Se a arte imita a vida, ou se é vice-versa, esse continua sendo o enigma, mas não um dilema.
No filme de nossa vida, é possível viver um drama, aventura ou comédia. Boa parte dessa escolha cabe a nós. Ao decidirmos por uma viagem de férias pelo Rio Amazonas ou por Paris. São dois roteiros de filmes distintos. Diante da Torre Eiffel, nossa noção de tempo é mensurada pela história de sua criação, entre 1887 e 1889. Já no Rio Negro, dentro de um barco, olhando o Sol se pôr, nos deparamos com a natureza em estado bruto, um elo perdido, onde a noção de tempo não mais existe.
Fazer cinema é um pouco isso. É lutar contra os segundos vazios e tentar completá-los com sentido de vida, experiências, que nos envolva e nos enrede nas malhas do tempo. Uma vida pode ser um filme com mil possibilidades de enredos, mas tendo um único protagonista: você. Precisamos garantir que a história tenha um final feliz.
A gente se lê!
*Messina Neto é diretor de cinema e TV, roteirista e showrunner. Também é sócio do 16×9 Lab