Por Mario Ciccone
A tradicional marca britânica Morgan apresenta o Midsummer, um modelo com design da Pininfarina e edição limitada a 50 unidades
Um roteiro quase obrigatório para um inglês elegante é frequentar a Savile Row, em Londres. Nessa rua estão os principais alfaiates do mundo – até os membros da família real já tiraram as suas medidas por lá. Se olharmos para as suas garagens, pode-se dizer que, entre tantas marcas famosas, a Morgan Motor Company é a que melhor representa o tailor made – very british, of course.
Acontece que esse lorde inglês resolveu variar um pouco o seu traje e viajar para a Itália. Não foi nem para Milão ou Nápoles, onde estão outros alfaiates famosos, mas para Cambiano, na província de Turim. Ali pediu alguns desenhos para um dos estúdios de design mais famosos do mundo, a Pininfarina.
As duas marcas resolveram celebrar mais de 200 anos combinados de história. São 115 da Morgan e 94 da Pininfarina. Dessa união de estilos e paixões, surgiu o Morgan Midsummer, numa edição limitada a 50 unidades. “Esse é um exemplo único de construção de chassis, que está entre a arte e o design. Ele vai ao encontro do que a Morgan faz de melhor”, exalta o CEO da Morgan Motor Company, o italiano Massimo Fumarola, que já teve passagens por Lamborghini e Audi. “São duas tradições, duas culturas e experiências unidas por uma crença profunda nos princípios do artesanato. Esse coração bate mais forte do que nunca.”
No estilo barchetta, o Morgan Midsummer combina com perfeição metal, madeira e couro
O nome Midsummer remete a duas inspirações: o verão e as colinas de Midsummer, na Inglaterra. Aliás, essas colinas fazem parte de Malvern, onde fica a sede da Morgan, desde o longínquo 1914. Foi nessa área, em Worcestershire, que C. S. Lewis começou a escrever as suas Crônicas de Nárnia.
O modelo tem o estilo barchetta – “barquinho”, traduzido do italiano. São carros conversíveis (ou sem capota) de dois lugares com capô longo e traseira curta. Também eram usados em corridas. O Midsummer é baseado na nova plataforma da marca, chamada de CX-Generation Bonded Aluminium, e tem motor 6 cilindros turbo, com transmissão automática de oito velocidades.
Embora o ronco do motor seja harmônico e prazeroso de escutar, o veículo também irá atrair o aficionado por carros por outros predicados. Ele veste o motorista, assim como um terno sob medida. A marca prima pelo seu trabalho artesanal com alumínio, madeira e couro. Essas horas de ofício estão evidentes no resultado final.
Trata-se de um carro com a clara inspiração em lanchas. As estruturas de madeira são esculpidas e adornam a linha na altura dos ombros dos ocupantes. A madeira utilizada é a teca, um tipo de alta qualidade e cultivo sustentável. Cada camada não tem mais do que 0,6 mm de espessura. São necessárias 30 horas de trabalho e 83 m2 da matéria-prima para cada veículo.
Com tijolos à mostra, a sede da Morgan expressa tradição. Mas ela está com as quatro rodas no século 21. Os artesãos e os engenheiros trabalham lado a lado, em uma sintonia comparável ao jogo ofensivo do Manchester City, de Pepe Guardiola. E tem marceneiros da Morgan que utilizam o software CAD (muito utilizado em arquitetura e decoração). Já os painéis da carroceria de alumínio são batidos à mão e exigem 250 horas de labuta. Com isso, o Midsummer terá a produção mais demorada do portfólio da Morgan.
O diretor técnico da empresa britânica, Matt Hole, destaca a importância do novo modelo na história da empresa. “A Morgan está elevando a qualidade e a percepção de seus veículos. O Midsummer é um testemunho dessa evolução. Acredito que esse projeto elevou o nível da marca e ajudará todos os modelos futuros.”
Da parte da Pininfarina, o projeto acentua a elegância do carro e também evoca alguns designs históricos do estúdio, em especial aqueles do final dos anos 1930 ao início dos 40. “O legado, já único, das duas empresas, uma vez combinado, produz um resultado sem paralelo em nosso setor”, destaca Giuseppe Bonollo, vice-presidente de vendas e marketing da Pininfarina. “Por meio da sinergia perfeita entre nossas equipes e da paixão compartilhada por ambas as marcas, surge uma nova obra-prima, combinando a herança britânica com o design atemporal da Pininfarina.”
Vale destacar que normalmente os projetos da Pininfarina vêm com a assinatura “Design by Pininfarina” – nos carros da Ferrari, por exemplo. O projeto com a Morgan, porém, tem outro patamar de exclusividade e colaboração: o Midsummer recebe o emblema “Pininfarina – Fuoriserie”, ou “fora de série”.
Novo modelo traz referências de projetos da Pininfarina dos anos 1930 e 1940
A apresentação do Morgan Midsummer está marcada para o Festival de Goodwood. (Veja reportagem sobre esse tradicional evento nesta THE PRESIDENT.) Os primeiros modelos começam a sair da fábrica ainda no segundo semestre de 2024, e sua produção irá se estender até o ano que vem.
A Morgan é uma marca muito difícil de encontrar. No Brasil, por exemplo, apenas um veículo foi visto. Trata-se de um Aero 8 2009, que circula em Belo Horizonte. Encontrar um desses é como a jornada de busca pelo Santo Graal na indústria automotiva. Com o perdão pelo exagero, é a busca pela Grande Beleza, citando o premiado filme de Paolo Sorrentino. Se a engenharia e o design puderem ser elevados ao patamar de manifestações culturais, o Morgan Midsummer será o seu estado de arte.