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entrevista

O que a Corrida do Ouro do século XIX tem a ver com a corrida tecnológica atual?

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O que a Corrida do Ouro do século XIX tem a ver com a corrida tecnológica atual?

Pedro Superti é reconhecido por sua atuação no campo da diferenciação empresarial e agora amplia sua visão para analisar os efeitos da inteligência artificial no ambiente corporativo brasileiro

Pedro Superti é reconhecido por sua atuação no campo da diferenciação empresarial e agora amplia sua visão para analisar os efeitos da inteligência artificial no ambiente corporativo brasileiro. Com duas décadas dedicadas a auxiliar líderes a encontrarem elementos únicos em seus negócios, Superti concentrou esforços recentes em compreender as mudanças provocadas pela inteligência artificial. Ao longo desse percurso, identificou que o surgimento e expansão dessa tecnologia estão promovendo transformações profundas não apenas na execução operacional, mas também nas dinâmicas estratégicas e culturais das organizações. Após examinar as ações e decisões de mais de 30 mil empreendedores, Superti passou a focar seus estudos na distinção entre líderes que enxergam e aproveitam oportunidades emergentes e aqueles que permanecem presos a antigos modelos, correndo riscos de obsolescência. Com esse trabalho, ele busca apontar caminhos práticos e visionários para que empresas brasileiras consigam navegar com sucesso nas ondas crescentes da inteligência artificial, garantindo relevância e sustentabilidade em um futuro marcado por mudanças rápidas e constantes.

Pedro Superti/Reprodução

1. Como surgiu o interesse em estudar os impactos da inteligência artificial no universo empresarial?

Foram quase 25 anos auxiliando empresas e líderes a se diferenciarem no mercado. Durante esse período, observei uma mudança profunda causada pela inteligência artificial, que começou a redefinir completamente o conceito de diferenciação. Inicialmente, meu foco estava em destacar empresas em mercados saturados, mas a introdução dessa nova tecnologia revelou a necessidade urgente de rever os métodos tradicionais. Percebi que técnicas antigas estavam rapidamente se tornando obsoletas diante das capacidades crescentes da inteligência artificial. Por isso, comecei uma pesquisa mais profunda sobre como líderes poderiam se adaptar e quais habilidades específicas seriam essenciais para garantir relevância e sucesso diante dessas mudanças.

2. Que características diferenciam os líderes preparados para essa nova realidade daqueles que estão vulneráveis à inteligência artificial?

Existem dois perfis principais que identifiquei nas minhas análises: operários e visionários. Os operários têm habilidades voltadas à execução e operação, sendo altamente eficientes em tarefas repetitivas e padronizadas. Contudo, justamente essas são as funções em que a inteligência artificial se mostra mais eficaz e rápida, o que coloca esses profissionais em risco de substituição. Os visionários, por outro lado, apresentam uma capacidade diferenciada para enxergar além do óbvio. São indivíduos que conseguem prever tendências futuras, compreender mudanças profundas no comportamento humano e inovar constantemente. Esses líderes não apenas respondem às mudanças tecnológicas, mas antecipam e criam novas realidades, se tornando indispensáveis em ambientes de rápida transformação.

3. Quais são as principais dificuldades enfrentadas atualmente pelos empresários diante da rápida expansão da inteligência artificial?

Atualmente, empresários enfrentam uma série de desafios relacionados à rápida expansão da inteligência artificial. Um dos principais é a crescente perda de clareza sobre objetivos e direção estratégica das organizações, causada pela velocidade das mudanças tecnológicas e excesso de informações. Muitos líderes se sentem sobrecarregados e incapazes de filtrar dados relevantes para decisões assertivas, o que gera uma profunda exaustão mental. Além disso, existe um receio significativo de se tornarem obsoletos, já que práticas antes eficazes rapidamente perdem espaço frente às inovações possibilitadas pela inteligência artificial. Essa situação provoca insegurança, resistência a mudanças e dificuldade em visualizar um caminho claro para o futuro dos negócios.

4. Você utiliza uma comparação entre o atual cenário tecnológico e a Corrida do Ouro do século XIX. Qual é a relação entre esses dois eventos históricos?

A comparação com a Corrida do Ouro do século XIX ilustra bem a situação atual. Naquele período, a maioria das pessoas concentrava esforços na extração direta do ouro. Porém, os grandes vencedores foram aqueles que entenderam o contexto mais amplo e investiram em setores relacionados, como ferramentas, vestuário e serviços de alimentação. Hoje, o cenário é semelhante: enquanto muitos se preocupam apenas em aprender e aplicar diretamente ferramentas de inteligência artificial, poucos conseguem perceber as mudanças mais profundas na economia, no comportamento dos consumidores e na cultura empresarial. Os líderes que captam esses impactos indiretos são os que verdadeiramente terão sucesso duradouro e vantagem competitiva nessa nova realidade tecnológica.

5. Considerando as transformações já observadas e as que estão por vir, qual é o passo inicial que um líder precisa dar para não se tornar obsoleto?

O passo inicial essencial para evitar a obsolescência é desenvolver a capacidade de desapego ao modelo atual de negócio. Durante muito tempo fomos treinados a encontrar estratégias ou modelos eficazes e utilizá-los por períodos prolongados, confiando na estabilidade. No entanto, vivemos agora um momento histórico marcado pela maior transferência de riqueza já registrada. Não se trata apenas de adicionar ferramentas tecnológicas ao negócio existente, mas sim de questionar profundamente se o atual modelo continuará viável em 3, 5 ou até 10 anos. Os líderes que tiverem coragem de desapegar do passado e estiverem dispostos a criar algo completamente novo serão aqueles que se destacarão nesta fase de grandes transformações. Serão os vencedores deste momento histórico, precisamente por saberem abandonar modelos ultrapassados e abrirem caminho para novas possibilidades empresariais.