A arte de Gaudí, a cidade medieval de Girona, o charme de Lisboa e o pôr do sol de Comporta: um roteiro superexclusivo, entre Espanha e Portugal, para viajantes sem pressa
Por Cris Berger
Gaudí, o luxo do Majestic e Girona
Ir para Barcelona é como visitar a casa de Gaudí, um dos grandes ícones do Modernismo catalão do final do século XIX. O arquiteto espanhol, que viveu entre 1852 e 1926, transformou a capital da Catalunha em palco do seu trabalho singular.
As cerâmicas coloridas, os mosaicos e os vitrais são vistos na Casa Batlló, La Pedrera e Vicens, assim como no Parque Güell. A igreja da Sagrada Família, declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO em 2005, é seu trabalho mais importante e conhecido no mundo todo.
Simplesmente Majestic
O Passeig de Gràcia é um dos endereços mais exclusivos de Barcelona. Ela liga a famosa Praça Catalunha com o bairro Gràcia. Entre os motivos de tanto glamour estão duas obras de Gaudí e as lojas de grife Chanel, Louis Vuitton, Gucci, Prada e Dior. Além do hotel Majestic, que foi construído em 1918 e está entre as melhores hospedagens cinco estrelas da cidade. Seguramente, sua nobre localização conta a seu favor, mas o que realmente o diferencia é uma pequena soma de importantes detalhes.
Fiquei hospedada na suíte júnior Passeig de Gràcia, que tem 45 metros quadrados e uma sala separada do quarto por uma porta de correr. Ela é um verdadeiro deleite. Pude trabalhar na escrivaninha, que é bem espaçosa, e relaxar na sala com sofá, poltrona e mesa de centro, decorada com livros de arte.
No quarto, a cama king-size com lençol de incontáveis fios e cardápio de travesseiros garante uma noite perfeita. Pela janela, vê-se a fachada dos prédios centenários do Passeig de Gràcia: a paisagem parece uma pintura.
O banheiro, feito com mármore branco, tem o chuveiro separado da banheira e do lavabo. E no armário há roupões e chinelinhos. As amenities são da Musc Eternel, com uma fragrância exclusiva para o Majestic criada pelas perfumistas Sylvie Ganter e Christophe Cervasel. “Desenvolvemos um aroma que combina uma base cítrica com ingredientes distintivos da nossa região”, explica Andrea Marin, relações públicas do hotel.
O restaurante Solc serve pratos da culinária mediterrânea contemporânea. O chef David Romero comanda o espetáculo com ingredientes locais de pequenos produtores e da horta em Maresme, na costa espanhola. O azeite de oliva Arbequina vem da finca La Gramanosa, localizada em Avinyonet del Penedès. O menu é criado de acordo com o que há de melhor em cada estação: “Cada prato é feito para ressaltar os sabores autênticos e respeitar ao máximo a qualidade dos insumos”, explica Romero.
O café da manhã é uma atração à parte. No buffet há 100 opções do que comer, divididas em dois balcões: de salgados e doces. Além da seleção de pães, frios e queijos, há receitas árabes e o famoso pão com tomate e azeite de oliva da gastronomia espanhola, além de embutidos catalães.
O chef pasteleiro Marc Pérez prepara diariamente os doces e entre eles estão os clássicos croissants e pain au chocolat francês. No menu à la carte, a french toast é divina e os ovos Benedict são considerados como “plato estrella”, ou seja, o carro-chefe. E, claro, há uma garrafa de cava para acompanhar este banquete. O café também pode ser pedido no quarto, a qualquer hora do dia.
O hotel é pet friendly e chama seus hóspedes caninos de Very Important Pets, uma versão atualizada de VIP. Eles recebem um cartão de boas-vindas com o nome, cama, brinquedo, petiscos, comedouros e garrafa de água.
Há duas experiências imperdíveis: a piscina do SPA e o rooftop. Para utilizar a piscina do SPA, é necessário agendar. Então, vista o roupão e chinelinhos, entre no elevador, aperte o botão -1 e prepare-se para desfrutar de um dos melhores SPAs da sua vida. A chave do quarto abre a porta de vidro, que dá para a área exclusiva dos hóspedes onde está a piscina aquecida de 12 metros. Seus olhos ficarão fascinados pelo papel de parede, luz indireta e beleza da decoração, mas o melhor está por vir, pois ao lado da sala de relaxamento, onde estão algumas espreguiçadeiras, há 20 metros quadrados de puro prazer. São diversos jatos de hidromassagem e fontes de água que caem fortemente quando acionadas, fazendo uma fabulosa massagem nos ombros, costas e cabeça.
Escolha um final de tarde para curtir o entardecer do rooftop, pois nele está o bar La Dolce Vitae. A vista é privilegiada. O céu ganha um azul mais forte, o horizonte é pintado de rosa, as luzes dos abajures são acesas e o cenário torna-se perfeito para provar o cardápio preparado pelo chef Nandu Jubany e curtir o som do DJ da casa.
Girona
Ah, Girona! A pérola medieval, como é conhecida, fica a cerca de uma hora de Barcelona. Prepare a câmera para registrar as casas coloridas refletidas nas águas do rio Onyar, que corta a cidade. Atravesse a Ponte de Ferro assinada por Gustave Eiffel, o engenheiro que fez a Torre Eiffel de Paris, pois é um dos cartões-postais de Girona. Siga o caminho para o Bairro Velho, que carrega a história dos séculos passados com fachadas que nos fazem ter certeza de uma coisa: estamos no Velho Mundo e ele é estonteantemente belo.
Cada vez mais, as ruas ficam estreitas até que elas viram bequinhos e nos damos conta de que estamos imersos em Girona de 79 a.C. É uma viagem no tempo, um regresso ao passado e parece cenário de filme. Falando na sétima arte, vale lembrar que Girona foi cenário da série Game of Thrones.
São escadas, paredes e casas feitas de pedra em um verdadeiro labirinto. E lá pelas tantas você chega na catedral gótica da cidade, a Santa Maria, e fica sem palavras, pois é majestosa e imponente. Nela está a maior nave gótica do mundo, com quase 23 metros de largura. Não menos impressionantes são as muralhas construídas pelos romanos no século XIV para tentar combater as tropas de Napoleão Bonaparte. É possível caminhar em cima delas e ter uma vista “aérea” da cidade.
Para desbravar os segredos desta cidade enigmática, invista em um tour personalizado. A Experience Wanderlust, da brasileira radicada em Barcelona há 15 anos, Vick Fichtner, organiza passeios personalizados por Girona e recomenda: “Após percorrer a parte medieval, sugiro um roteiro gastronômico pelo império dos Irmãos Roca, detentores de 3 Estrelas Michelin, que pode incluir um jantar e degustação de vinhos no novíssimo e já disputado restaurante Esperit Roca, um sorvete no Rocambolesc ou um jantar no multipremiado Celler de Can Roca.”
Lisboa e Comporta: puro giro!
Abri a janela do meu quarto, no estilo mansarda, típico da arquitetura do Velho Mundo, no quarto andar do hotel Almalusa, no charmoso bairro de Alfama, em Lisboa, e fui surpreendida pela vista do rio Tejo, que domina boa parte do horizonte. A paisagem é deslumbrante. O Almalusa, um hotel boutique com apenas 25 quartos, foi cuidadosamente decorado por Miguel Simões de Almeida, o proprietário, e ocupa uma construção histórica datada do século XII.
Inaugurado em dezembro de 2023, preservou elementos da construção original, como madeiras, escadas, corrimãos e a fachada. Atrás dele, ergue-se a imponente Catedral de Lisboa, e a poucos minutos a pé, encontra-se o Castelo de São Jorge. O bairro é caracterizado por suas ruelas íngremes e sinuosas, fachadas cobertas de azulejos e pequenos restaurantes e lojas de souvenirs.
O café da manhã ou pequeno-almoço, como é dito no português de Portugal, é servido nas mesas do Delfina Café, que tem como chef Carla Sousa. É também da cozinha dela que saem os bolinhos caseiros deixados no quarto com o cartão de boas-vindas. No buffet, encontram-se pães artesanais, charcutaria, salmão defumado, queijos, bolo do dia e viennoiseries, com destaque para o clássico e delicioso pastel de nata, adquirido na padaria Panidor de Pedro Mendes, que vem de uma tradicional família de padeiros da pequena aldeia de Souto da Carpalhosa. Além disso, há opções à la carte, como os ovos mexidos com cogumelos, que merecem destaque.
Arco da Rua Augusta
Vá até a Praça do Comércio, que é uma espécie de marco zero da cidade, construída após o terremoto de 1755 pelo primeiro-ministro Marquês de Pombal, que criou um plano urbanístico para proteger a cidade de futuros desastres. Ela representa o renascimento de Lisboa depois de ser praticamente destruída pelo tsunami e incêndios causados pelo forte tremor de terra.
Pare e olhe para o rio Tejo, vire o olhar para a direção oposta e levante o pescoço até o topo do suntuoso prédio de 1873, no estilo neoclássico feito de pedra calcária, chamado Arco da Rua Augusta. Ali está a estátua de um homem, que pretende ser a presença de Deus abençoando a cidade.
Agora suba até o seu topo. Se de um lado você vê o Castelo de São Jorge e a beleza das centenas de telhados dos prédios, do outro admira a imensidão da Praça do Comércio, que na Idade Média era o centro administrativo e comercial da cidade. Bem, ela segue sendo ponto de encontro com cafés e restaurantes.
A vida na beira do Tejo
São 6 quilômetros entre a Praça do Comércio e a Torre de Belém, à beira do rio Tejo, e um bocado a ser visto. Porque sim, a vida acontece no calçadão paralelo à Avenida Infante Dom Henrique. Os bancos de pedras, poltronas enfileiradas e viradas para o rio, e mesinhas e cadeiras nas varandas dos restaurantes são disputadas. Caminhar, correr, andar de bicicleta, fazer selfies, admirar o Tejo, tomar sol, beber e comer fazem parte da programação escolhida por turistas e também moradores.
Em um dia, eu percorreria a Praça do Comércio, o Cais das Colunas, onde estão as duas colunas de pedras datadas do século XVIII, que simbolizam a entrada da cidade e marcam a Era dos Descobrimentos e do Império Colonial. Iria até o Cais do Sodré, onde fica a Estação Ferroviária e o Mercado da Ribeira. E sabe o quê? Sairia de barco pelo rio Tejo. Veria os iates e barcos de luxo da Doca do Bom Sucesso, onde também há um polo gastronômico. Sempre olhando a Ponte 25 de Abril de 1966, que lembra a americana Golden Gate de São Francisco.
Em outro, conheceria os museus do MAAT (Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia) e da Central Tejo (eletricidade). Veria de perto o monumento do Padrão dos Descobrimentos, o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém. Eles estão próximos e há muito para conhecer em cada um deles.
Meios de transporte
Os carros ficam congestionados nas ruas despreparadas para recebê-los, afinal, elas datam da época medieval, onde o transporte era feito a pé e com burros. É curioso e estimulante pensar que estamos falando do século VIII, antes de Portugal ser um país e, sim, um reino, quando houve a queda do império romano e o domínio dos muçulmanos. Portanto, caminhe o máximo possível e, quando cansar, use um dos tuk-tuks, carros antigos, bondinhos ou trams para se locomover.
Antes de eu chegar a Lisboa, recebi o conselho: “ande de tuk-tuk”. Eu realmente não imaginava que veria tantos veículos de três rodas pela cidade; no meu imaginário, eles eram comuns aos países da Ásia e, de fato, são originários da Índia e Tailândia. Porém, se adaptaram super bem ao way of life de Lisboa.
E convenhamos, nada como admirar um monumento histórico conhecendo a sua história, o que me leva a dizer que os tuk-tuks vão além de um eficiente modo de transporte pelas apertadas colinas de Lisboa, pois os motoristas se tornam contadores de histórias. Há a opção de contratá-los antecipadamente, por um período determinado e focado em um interesse específico. Como desde 2008 houve uma explosão desses triciclos motorizados, eles passaram a ser regulamentados e contam com acessórios de segurança.
Junto deles, há os carros antigos, em perfeito estado. Você pode escolher entre um Ford Mustang ou um Mercedes-Benz. Sem dúvida, isso é um charme da cidade, pois combina com a arquitetura do velho mundo, ainda mais para nós que vivemos em um país bem mais jovem.
Para quem ama azulejos
Os azulejos foram trazidos para Lisboa pelos mouros no século XV. Se no começo eles tinham o papel de refrescar os ambientes, logo ganharam o ofício de enfeitá-los. Conhecidos no mundo todo, em Portugal parecem ainda mais bonitos, deve ser a áurea da autenticidade. Não há como passar reto por uma parede revestida desta bela cerâmica sem parar para tirar uma foto ou pelo menos admirar. O modelo clássico é pintado de azul cobalto e branco, os desenhos podem ser de cenas mitológicas ou figuras geométricas. E há os que contam histórias bíblicas e de festividades populares. Em Alfama, há azulejos do século XVIII, que vêm da reconstrução da cidade, após o grande terremoto.
Quem é apaixonado por azulejos deve investir no roteiro criado pela Experience Wanderlust, que passa pelo Museu Nacional, Museu Bordalo Pinheiro e Vista Alegre. “Fazemos um mergulho na rica história e arte portuguesa, com foco nos icônicos azulejos e na cerâmica do país. A ideia é aprender sobre essa tradição centenária e ter uma experiência prática, fazendo seu próprio azulejo. Também conhecer o trabalho de Pinheiro, que foi um importante ceramista. E, claro, comprar uma peça da Vista Alegre, uma das mais renomadas marcas de porcelanas”, sugere Vick Fichtner, idealizadora da Wanderlust.
Comporta, a praia que flechou meu coração
Você provavelmente vai se apaixonar pelo charme intimista do Almalusa em Lisboa e, quem sabe, ficar curioso para conhecer a unidade de Comporta. Para isso, basta alugar um carro e dirigir por cerca de uma hora e vinte minutos até Alcácer do Sal, no litoral de Portugal. Eu poderia dizer que Comporta é um dos balneários mais exclusivos de Portugal, frequentado por celebridades como Madonna e Christian Louboutin, mas, sinceramente, isso pouco importa. A verdade é que eu não sabia nada sobre o lugar quando o descobri e fiquei completamente encantada. Aposto que você sentirá a mesma coisa.
O que nos conquista em Comporta é justamente seu jeito despretensioso, sua beleza natural e o aconchego que oferece. O centrinho é pequeno, com ruas estreitas, mas cada cantinho é encantador. Lembro de sair do armazém Gomes, onde todos vão comprar vinhos, queijos e chocolates, além de insumos para preparar uma boa refeição com uma curadoria de produtos impecáveis. Foi quando avistei algumas mesas ao ar livre. Em uma delas, havia uma garrafa de vinho e cálices, com dois homens elegantes sentados conversando, enquanto a luz suave de um dia clássico de inverno fazia tudo parecer perfeito.
É uma mistura de rústico com chique, um povoado bem preservado. A praia nos deixa sem palavras. Uma passarela de madeira, no estilo palafita, que passa por cima das dunas – nos leva do estacionamento, impecavelmente organizado – até a areia clara e fofa, que vem acompanhada de um mar azul turquesa que parece não ter fim.
A placa de “proibido cães” parece ser ignorada — ainda bem, pois vi muitas pessoas com seus cães brincando na areia. Talvez seja levada a sério durante os meses de alta temporada, mas no dia 31 de dezembro, a liberdade parecia ter triunfado. O sol se põe no mar e a cena se torna ainda mais poética. Escolha um dos dois restaurantes à beira-mar, acomode-se na varanda e peça um vinho verde. Depois, namore o cardápio, experimente as especialidades da casa e fique até que o céu se escureça.
O Almalusa de Comporta fica perto do povoado, tem um ótimo buffet de café da manhã, quartos simpáticos e confortáveis e uma grande vantagem: é pet friendly.
Viagem internacional com pet
A Espanha e Portugal aceitam cães vindos do Brasil, mas é necessário seguir as regras da União Europeia. Dentro da cabine do avião, são permitidos cães dentro da bolsa de transporte que vai embaixo do assento à frente.
A agente de viagens Ana Lechugo, da Sonho e Magia Viagens, que é especializada no embarque de cães no avião e prepara toda a documentação, recomenda que o processo comece cinco meses antes da data de embarque. “Teremos que cuidar da microchipagem, vacinação antirrábica, exame sorológico de titulação e emissão do CVI. São diversos detalhes e exigências que não podem ser feitos de forma errada. A única preocupação que nossos clientes terão é de chegar no aeroporto na hora certa”, pontua Lechugo.